Agora é oficial, a FAA ( Federal
Aviation Adminstration ) mandou colocar toda a frota do Boeing 787 no chão. O
mais novo capítulo da história desta aeronave começou devido a um incêndio com
uma aeronave da Japan Air Lines no aeroporto de Boston nos EUA onde foram
detectados problemas nas baterias da aeronave, as quais estavam superaquecidas
ao ponto de provocarem um incêndio na mesma, o fato que ocorreu no dia
16/01/2013, com um Boeing 787 da ANA fazendo um pouso de emergência no Japão,
foi à gota d´água para a FAA deixar o moderno avião longe do seu habitat
natural.
O Boeing 787 é sem dúvida, a
aeronave certa para o começo deste segundo século da aviação. A aeronave que
assim como o Boeing 777 foi desenvolvida inteiramente em computador através de
um software High End chamado CATIA, tem o objetivo de substituir da sua linha
de produção, o veterano Boeing 767 e desbancar o Airbus A330 do fabricante
europeu e para isso, foram necessárias exaustivas 10 mil horas de testes para
que fossem certificadas melhorias que foram herdadas do já moderno Boeing 777,
como por exemplo ter uma planta real do aeroporto, facilitado aos pilotos que
taxiways eles deve seguir no seu taxi no caso de aeroportos muito grandes,
perfis de voo horizontal e vertical são mostrados no HSI ( Horizontal Situation
Indicator ), introdução de materiais compostos em partes nunca antes
introduzidas em uma aeronave, substituindo componentes até então metálicos reduzindo
e muito o peso da aeronave, fazendo o 787 ser mais eficiente e com um consumo
de combustível menor em relação aos seus antecessores. Também o Boeing 787 foi
herdado principalmente do Boeing 777, a arquitetura da cabine e a disposição
dos comandos fazendo com que as tripulações que venham de outras aeronaves da
Boeing, migrem com facilidade para o Boeing 787.
O moderno cockpit do Boeing 787, com 5 grandes telas, HUD's e tudo o que um avião moderno tem direito. |
Não é a primeira vez que a FAA
coloca uma frota de aeronaves no chão, em 1945, a FAA colocou a frota dos
modernos Lockheed Constellation no chão por causa de um acidente com uma
aeronave da frota da TWA matando todos os ocupantes a bordo, mas aí, a questão
foi política, já que a TWA de Howard Hughes que havia encomendado 40 exemplares,
era a arqui-rival da poderosa Pan American Airways de Juan Trippe, que tinha
influência política forte e fez com que a FAA prejudicasse a TWA impedindo que
seus Constellation não voassem por um bom tempo.
Lockheed Constellation. |
Mas no final dos anos 50, no
início dos voos do Lockheed L-188 Electra, um quadrimotor turboélice de última
geração teve sua carreira manchada na aviação comercial, isso se deu por causa
de dois acidentes idênticos que ceifou a vida de todos os ocupantes, o primeiro
foi no dia 29 de setembro de 1959 no voo 542 da Braniff e o segundo foi em 17
de março do mesmo ano com o voo 710 da Northwest onde durante o voo de
cruzeiro, a aeronave simplesmente “ batia asas ” até que elas se rompiam
fazendo com que ficasse apenas o charuto do turboélice em queda livre. As primeiras investigações da FAA
mostraram que as hélices giravam fora de seu eixo e tocavam no montante do
motor, já que na análise dos destroços, foram encontradas ranhuras da hélice
com a carcaça que segura à mesma. Diante desta coincidência, a FAA mandou
imediatamente colocar toda a frota de Electra no chão, e a Lockheed foi
obrigada a fazer um raio-x completo da aeronave fazendo um programa de testes
histórico chamado de LEAP ( Lockheed Electra Action Program ) que fizeram testes
estruturais rigorosos em solo e em voo. Nos testes em voo, os pilotos de testes
da Lockheed voavam com paraquedas a bordo devido ao risco da operação, até
mesmo às gigantes e rivais Boeing e Douglas se juntaram a Lockheed nos esforços
de descobrir o problema. Finalmente foi descoberta a doença do quadrimotor, os
eixos das hélices não possuiam um reforço adequado para manter as hélices no
eixo normal, isso ocorria com algumas rajadas de vento ou até um pouso mais
duro. Isso fazia com que os suportes que seguravam as hélices se soltassem
fazendo a hélice girasse fora de seu eixo, esse desgaste fazia com que fosse
criada uma vibração que afetava as asas do avião e normalmente atingia a
frequência máxima oscilação. Quando as frequências das asas e dos motores entravam
em ressonância, ou seja, se igualavam, as duas asas do Electra se partiam. Essa
doença ficou conhecida como Whirl Mode.
Diante deste quadro, a Lockheed fez um Recall da frota de Electra e fez os reforços
estruturais necessário, o que custou para o fabricante em torno de U$$ 25
milhões, um prejuízo e tanto para a Lockheed na época. Depois dos reparos do
fabricante, a aeronave voltou a voar sem grandes problemas, só que o dano
deixado por este grave problema, mudou o destino da Lockheed no desenvolvimento
de aeronaves comerciais e praticamente acabou com o projeto do Electra para
passageiros sendo apenas desenvolvido para uso militar ou de carga.
No caso do Boeing 787, não
estamos mais nos anos 40 e 50, a segurança nas aeronaves é incomparável aos
daquela época, os voos são mais seguros, os instrumentos de navegação são mais
precisos, os comandos hidráulicos, elétricos, de pressurização são mais
eficientes e cada vez mais a prova de falhas, e problemas com aeronaves iram
sempre surgir, porque o ser humano comete erros, eles são normais, além do
mais, atraso em projetos aeronáuticos são absolutamente normais, o Airbus A380
sofreu com problemas semelhantes aos do 787 e hoje voa normalmente. O caso do
787 levanta suspeita, mas a Boeing sabe construir aeronaves confiáveis, o
projeto do Boeing 747-8 é um exemplo, ele foi desenvolvido praticamente em
paralelo com o Boeing 787 e até agora não apresentou problemas semelhantes,
resultado, a aeronave já voa a um tempinho sem apresentar qualquer problema sério,
o que prova que o projeto do 787 não está tão ameaçado quanto o projetos do
Electra, já que nesse caso, nenhuma vítima fatal ou ferido foi registrado
ainda, então isso ainda salva a pele da Boeing, mas o mercado é que enxerga mal
esses fatos, principalmente os clientes, tanto os que já operam o Boeing 787
quanto os que ainda irão receber o novíssimo avião. Tecnologia e segurança,
existe, mas o A350 da Airbus tá já saindo do forno, então a Boeing não dispõe
de tanto tempo para corrigir essas falhas, então é sim na nossa época, um
motivo de preocupação para o fabricante americano. A FAA apenas faz o seu papel
de agência regulamentadora, mas assim como o A380, o 787 passará por essa
crise, mas de que forma, veremos nos próximos capítulos.
Airbus A350-800, será também lançada a série -900, concorrente do Boeing 787 que fará seu primeiro voo em breve. |
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